* Hugo Paulo Gandolfi de Oliveira,
jornalista, professor universitário
Bem instigante, do ponto de vista subreptício, dos interesses envolvidos e da transparência - ou da falta dela -, a debandada que ocorre quando surge um novo partido. Agora não é diferente, com a migração de políticos de agremiações diversas para o novo Partido Social Democrático (PSD), criado pelo insosso prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab. Nessa montagem, também há um desmanche partidário, que afeta especialmente o DEM, e um novo partido surge, não necessariamente com novas ideias.
Pode-se dizer que é tudo por “ideologia”. Sim, as mudanças de siglas ocorrem por “ideologia”, no caso presente para um partido sobre o qual seu fundador disse que não será “nem de esquerda, nem de direita, nem de centro”. Então, ideologicamente, seria de que linha? Até agora, muito pouco se sabe, mas pelo que se conhece, pelo comportamento histórico da maioria das demais siglas partidárias, o PSD pode ir para qualquer lado, em termos de ideologia. Atualmente, apesar de estar surgindo, mostra-se sem rumo, como algumas velhas agremiações de ideario pobre. Também mostra velhas práticas para obter as 490 mil assinaturas que necessita, em no mínimo nove Estados, para ser um partido político: em Santa Catarina, assinaturas com nomes de eleitores mortos; no Paraná, eleitores analfabetos assinando listas; em São Paulo e no Rio de Janeiro, assinaturas falsificadas.
Não se sabe, na verdade, se o chamado “Partido de Kassab”, ou PK, vai ser oposição ou situação. Mesmo sem rumo, poderá ter de 40 a 50 parlamentares no Congresso Nacional, equiparando-se, numericamente, ao PT, ao PMDB e ao PSDB. Pelas oportunidades que proporciona, diante da legislação, atrai em verdadeira baldeação até antes ferrenhos oposicionistas ao governo federal, que de repente podem ser da base aliada, ou alinhada. É o puro cinismo partidário.
O total de partidos políticos existentes hoje no Brasil, como mostra o Tribunal Superior Eleitoral (http://www.tse.gov.br/internet/partidos/index.htm), é de exatamente 27. Portanto, o PSD será o 280, numa lista de nomes até estranhos, muitos inexpressivos. Se analisarmos os estatutos de cada um, certamente pouca será a diferença entre eles.
Propor atuação ideológica é uma coisa, segui-la na acepção genuína das propostas e princípios partidários é outra questão, pelo que se vê atualmente na miscelânea partidária do país. O PSD é só mais um exemplo, e tomará que não se torne mais um mau exemplo no histórico partidário do país.
Hoje, na política partidária brasileira, praticamente tudo depende de negociações, às vezes de negociatas, de arranjos, de cargos, com propósitos nem sempre bons para o país, os Estados e os municípios. Pior, nem sempre são bons para o eleitor e para o contribuinte, como mostram verdadeiras quadrilhas formadas em determinados órgãos públicos para subtrair recursos.
Como bem analisou a revista inglesa The Economist, ao tratar da política brasileira, o país ainda apresenta semifeudalismo nesse campo. Ou seja, há políticos semifeudais que ainda prevalecem em alguns cantos, ou centros, do Brasil, perpetuando velhas práticas, em partidos velhos ou naqueles que vão surgindo.